sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O Brasil deve (ou pode) ajudar o Haiti?...

Em matéria publicada hoje no ClicRBS, escrita pelo jornalista Eduardo Rodrigues, é apontada uma realidade para a qual muitos não querem abrir os olhos. E ainda tem "alguém" que, evidentemente devido ao ano eleitoral, quer liberar milhões e milhões para o Haiti mesmo com o seu povo sofrendo na mais autêntica miséria. Parabéns pela matéria. Transcrevo.
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Se uma imagem vale por mil palavras, as fotos destas páginas dispensam qualquer centímetro de texto. Basta olhar para se envergonhar. Ver de novo para não esquecer. São moradores com nome, sobrenome e endereço fixo nas ruas da Capital.

Eram poucos, agora são centenas. De dia, vivem como catadores andarilhos. À noite, descansam o corpo na laje fria das calçadas, em bancos de praça e na escadaria de igrejas. Muitos ficam pelo caminho, derrotados pelo álcool, vencidos pela droga, vítimas da violência.

Em 2008, a população adulta de sem-tetos era de 1.203 pessoas. Hoje, a prefeitura não sabe.

Número de sem-teto parece ter aumentado

Embora não haja dados oficiais (o último levantamento feito pela Ufrgs é de 2008), a impressão de quem circula pela Capital é de que o número de moradores de rua aumentou. Na madrugada de ontem, a reportagem deparou com cenas que tornaram-se rotineiras na noite da cidade.

Conhecido por sua beleza arquitetônica, o viaduto Otávio Rocha, na Avenida Borges de Medeiros, é um dos redutos preferidos dos sem-teto.

Embaixo de suas escadarias, sustentadas por amplas arcadas, jovens, adultos e idosos acomodam-se para dormir. Quando anoitece, o passeio serve de cama para quem não encontra vaga em albergue ou resiste à oferta de ajuda.

Porteiro desempregado, Sérgio Luís do Nascimento, 48 anos, acordou para explicar a razão de estar ali.

Sem perspectiva de vida melhor

O ex-morador da Lomba do Pinheiro perambula há seis meses, sem documentos e sem perspectiva de uma vida melhor.

– De dia, cato latinha para vender e à noite me encosto aqui. Uma senhora traz café todas as manhãs. Quando consigo dinheiro, almoço no Bandejão – revela o andarilho, com duas passagens pelo Presídio Central.

Na esquina da Borges com a Rua Jerônimo Coelho, a situação é pior. Um tapete humano estende-se sob a marquise do prédio do INSS (edifício Cristaleira). A 1h40min, 23 pessoas dormiam numa espécie de alojamento coletivo a céu aberto.

Mudança no perfil

A presença maior de jovens nas ruas denuncia uma mudança no perfil desta população.

Segundo o sociólogo da Ufrgs Ivaldo Gehlen, coordenador da pesquisa que apontou a existência de 1.203 moradores de rua adultos na Capital em 2008, há uma explicação para este fato.

– Adolescentes que vivem na rua, crescem neste ambiente e chegam à maioridade com o mesmo comportamento dos adultos. Na pesquisa, 65% dos adultos dormiam na rua – relembra.

Outro motivo seria o movimento migratório deste grupo.

Com o fechamento, pela prefeitura, dos vãos sob as pontes da Avenida Ipiranga, por exemplo, os sem-teto passaram a ocupar outros espaços, tornando-se mais visíveis aos olhos da multidão.

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